Yuno Silva - repórter
Cosmopolita e ousado. Se tivéssemos poucas palavras para descrever o trabalho do artista visual Guaraci Gabriel, certamente essas duas estariam no topo da lista. Visto como polêmico por uns e louco por outros, Guaraci já representou o RN em diversas Bienais de abrangência internacional como a de São Paulo; do Mercosul, realizada em Porto Alegre (RS); de Cuba e do Fim do Mundo, em Ushuaia, Argentina. Sua arte também cruzou o Atlântico, quando participou de uma exposição coletiva na Áustria, e o próximo destino do potiguar é a França, onde desembarca para nova temporada entre os dias 18 e 31 de maio. Na bagagem, três infogravuras com mais de 12 metros quadrados cada – montagens fotográficas onde se vê suas gigantescas esculturas ‘invadindo’ os jardins do Museu do Louvre.
Sonda Intergalática, escultura com 13 metros de altura e 10 toneladas exposta em Mossoró. Quem não conhece o trabalho de Guaraci Gabriel, vale salientar que ele figura no livro dos recordes, quando, em 1998, materializou a maior obra feita com material reciclado do mundo: “Guerra e Paz”, de 50 toneladas e 24 metros de altura, na época exposta na Via Costeira. Para manter essa mania de grandeza, o artista está levando a Paris sua mais recente criação: a “Sonda Intergalática”, uma escultura com 13 metros de altura e 10 toneladas exposta em Mossoró, que será ‘tele-transportada’ através da infogravura criada especialmente para a exposição L’Univers Bresilien 2011, em cartaz na Galerie Everarts.
Mas a viagem internacional de Guaraci ainda não está 100% garantida, por isso o artista abre Mostra no próximo dia 7 de abril, na Galeria do Bardallos (Rua Gonçalves Ledo, 678 - Cidade Alta, Natal/RN), a partir das 18h, onde irá apresentar os três trabalhos que seguirão para a França – a versão reduzida (60 cm x 90 cm) dos trabalhos estará à venda. Na ocasião, também aproveita para lançar escultura inédita em ferro e aço, intitulada “Ilusão I”, e relançar o “Passaporte Galático”, trabalho que levou para a 10ª Bienal de Cuba em 2009. “Também estarei fazendo um retrospectiva de meus 30 anos de produção artística, com projeção de fotos”, adiantou. Apesar do convite oficial em mãos, o potiguar precisa comprovar recursos para cobrir despesas com hospedagem e alimentação para não ser barrado na polícia de imigração.
“Consegui apoio da Fundação José Augusto na compra das passagens, e a Assembleia Legislativa também chegou junto. Agora quero ver se dá certo o apoio da Prefeitura de Natal, por isso estou propondo uma troca: ofereci o trabalho ‘Primavera Perfeita’, um painel a ser montado na própria sede do poder executivo municipal com 1.276 fotografias de mulheres que se destacaram na história do RN e anônimas. Juntas, irão formar a imagem da Xanana, flor símbolo da cidade”, adiantou. “Inclusive, as pessoas interessadas em fazer parte da obra podem deixar fotografias 3x4 no Núcleo de Artes Visuais da Capitania das Artes até junho”, adiantou. Pelos planos, o painel deverá ser inaugurado em setembro, no início da Primavera, estação do ano celebrada há quase duas décadas pelo artista.
Sobre sua trajetória, Guaraci verifica que amargou certa descrença por parte do público antes de ter seus trabalhos reconhecidos como obras de arte. “O público só consome cerca de 10% do que é produzido, e muitas obras ainda causam estranheza. As pessoas precisam abstrair, deixar pré-conceitos de lado para perceber a mensagem proposta”, disse. Desde os tempos do Grupo Oxente, coletivo artístico atuante na década de 1980, também formado por Sayonara Pinheiro, Civone Medeiros, Cícero Cunha, Mikeas e “vocês”, que Guaraci investe na produção de instalações e intervenções urbanas. Seu interesse pelas grandes obras surgiu após um curso em Brasília com o artista cearense Sérvulo Esmeraldo.
Sonda intergalática
Uma história curiosa circula em torno da obra que será ‘virtualmente’ levada para a exposição na capital francesa. “Primeiro que decido colocar rodas na ‘Sonda Intergalática’, uma mão de ferro que sustenta um pêndulo gigante como se fossem as várias camadas da atmosfera, do universo”, explica. “Essa mão foi construída com apoio dos operários da Brassnox, em Mossoró, que doaram algumas horas diárias de trabalho”, lembra. O próximo passo de Guaraci, e dos operários, é ‘escrever’ com solda, no dedo mindinho da Sonda, um poema do mossoroense Crispiniano Neto. “Vai virar uma nova escultura, chamada ‘Dê a César o que é de César’. Vamos cortar esse dedo mindinho e oferecer ao ex-presidente Lula, que também será convidado para o lançamento marcado para outubro. É uma forma de agradecer pelo seu trabalho como presidente. Tem tudo a ver pois o Lula é colega dos operários”, finaliza.
Em tempo, o artista potiguar Iran Dantas também fará companhia a Gabriel na exposição coletiva em Paris. Os dois irão receber homenagem da academia Arts-Sciences-Lettres Societè, da qual a curadora brasioleira Diva Pavesi faz parte. Foi Pavese que convidou os potiguares para expor e, segundo Gabriel, “ela pretender fazer uma exposição só com artistas do RN”. Iran foi selecionado durante uma exposição no Senado Federal em novembro de 2009, e Guaraci carimbou seu passaporte quando a curadora esteve no RN para conhecer outros artistas.
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